Luto em família: como se apoiar e superar a perda de um ente querido juntos

Embora a dor de perder alguém seja muito pessoal, e a maneira de sentir seja única, normalmente não se enfrenta sozinho ou, pelo menos, outras pessoas compartilham a mesma dor. Por isso, hoje vamos falar de luto em família, como se apoiar e superar a perda de um ente querido.

Luto em família

O luto é um sentimento muito individual, porém raramente é vivido sozinho, ou seja, outras pessoas compartilham do momento, pois cada pessoa que falece é o filho, esposa, pai ou avó de alguém, portanto, várias pessoas estão envolvidas pelo mesmo laço. 

Por essa razão, é muito importante tratar disso em família, pois quando a dor também é dividida e um apoia o outro, o luto se torna mais brando e fácil de superar.

A dor mesmo compartilhada possui características diferentes em cada familiar

Apesar de todos estarem sofrendo a perda de um ente querido, existem alguns detalhes importantes de entender a respeito.

O luto é algo completamente individual

Cada pessoa possui a sua maneira única de viver o luto. Algumas precisam de mais tempo, outras não demonstram de forma mais escancarada o que sentem e alguns vivem sensação de desespero constante. A forma de vivenciar o luto, diz respeito apenas a cada indivíduo, ou seja, não cabe julgamento ou análise de qualquer pessoa que seja.

Portanto, tudo que vamos falar aqui são direcionamentos, mas não são “escritos em pedra” e podem variar de acordo com cada família e indivíduo.

Segundo a Associação de Apoio A Vítima (APAV), o indivíduo que faleceu possuía diferentes relações com outras pessoas, como familiares, de amizade, amorosas e simples convívio, como colegas de trabalho, portanto, existem processos de luto ocorrendo simultaneamente.

Esses processos são dinâmicos, quer dizer, em meio aos sentimentos há uma notável complexidade de emoções, pois envolve laços afetivos, histórias pessoais, relações mais estreitas ou afastadas, marcadas pelo vínculo de cada indivíduo com o falecido.

Quando uma família é atingida pela perda, inevitavelmente a estrutura é abalada, afinal, há sentimentos profundos de sofrimento enfrentados pelos membros, de forma diferente, algumas vezes causando divórcios e cortes na relação.

Fatores

Idade do falecido e de cada membro da família

Quando a pessoa que faleceu era de idade mais avançada possui uma maior aceitação da morte por parte das pessoas, diferente de quando falece jovem.

Isso acontece porque temos a percepção de que alguém que faleceu, por exemplo, com 80 anos, já havia conquistado e vivido muitas coisas, não há o sentimento de interrupção abrupta da vida. 

Mesmo que ainda seja muito doloroso perder um avô ou avó, nós temos a concepção de que quando alguém chega nessa idade, a morte é algo inevitável, pois possui certa naturalidade, já que o ciclo da vida termina com ela. 

Já quando alguém com uma idade socialmente ativa (infância, adolescência e vida adulta) percebemos como uma interrupção da naturalidade, pois esperamos que todos cheguem até a velhice. Ninguém espera que alguém com 23 anos possa falecer de uma hora para outra, por exemplo, assim como temos a ideia de que ela ainda iria viver e conquistar muitas coisas.

Além da idade do falecido, existem questões relacionadas a idade também para os outros membros da família. Por exemplo, crianças e adolescentes, terão mais dificuldade para compreender a morte de um ente querido, mesmo que já tivesse idade avançada.

Já adultos com idade próxima com a de quem faleceu, tendem a pensar em sua própria morte, além de sofrerem pela perda. 

O papel na hierarquia familiar

Além da idade, o papel que o indivíduo que faleceu desempenhava na família também é uma questão importante, pois de maneira geral, cada um possuía sua parte e responsabilidade no seio familiar, assim como as relações e a forma de absorver a notícia acabam sendo diferentes.

Quando pais morrem, filhos possuem muita dificuldade para aceitar, principalmente crianças e adolescentes ou adultos que ainda moravam junto. Quando se perde a mãe ou o pai, a família tende a se fragmentar, já os pais que perdem um filho, vão ter muita dificuldade para salvar o relacionamento do fim. Muitos casais não conseguem manter a vida conjugal e familiar, principalmente quando não há outros filhos.

Poder que a pessoa exercia na relação

No luto em família também é importante refletir sobre o papel de dependência dos familiares em relação ao falecido. Nisso entra o nível de tomada de decisões, gestão e o papel de prover a família economicamente. Quando se perde uma parte da família que exercia esses papeis, a organização familiar é consideravelmente abalada.

Afinal, quando se perde alguém que provia sustento material, como despesas domesticas ou ensino, mas também governavam com eficiência a casa e satisfazia as necessidades básicas, como uma mãe que cuidava da alimentação e limpeza da casa, a coabitação se torna muito difícil, pois precisa reorganizar a rotina do lar.

Quando esses papeis eram muito bem definidos, quando não conseguem um substituto e há uma transferência ou usurpação de poder podem ocorrer falhas na estrutura familiar.

Os laços afetivos entre os membros da família

Este é um dos principais fatores determinantes na degradação da família, pois a qualidade da relação é estabelecida, acima de tudo, pelos laços afetivos, pois, isso une mais os membros do que o próprio laço de parentesco.

Quando a família é muito amorosa, não se perde apenas um parente, é uma perda afetiva. A sua ausência será amplamente notada nas datas importantes, conforme a pessoa era expressiva em suas manifestações de afeto.  Ou seja, quando quem falece era uma pessoa mais carinhosa, compreensiva, expansiva e agregava no seio familiar, mais a estrutura ficará ressentida. Isso acontece porque ela fazia parte do eixo estrutural e dinamizava, suportava ou revitalizava as relações.

Tensões familiares

Se diferente do item acima havia tensões na família e conflitos antes do falecimento, os problemas podem ser ampliados. Isso acontece porque no lugar de se apoiarem e ajudarem uns aos outros, podem passar por desentendimentos, principalmente depois da reação à notícia, haverá momentos mais demorados de desorganização. A própria maneira de como cada uma lida com o luto será mais evidenciada e isso pode gerar discordâncias, brigas e separações.

Assim como pessoas, as famílias possuem suas próprias dinâmicas, possuindo sua própria forma de viver e estar, desta forma, cada uma possui sua complexidade em relação ao processo de luto e seus membros, como diferenças de idade, condições sociais e habitacionais, histórias passadas, religiões, gostos culturais, diferenças acadêmicas, nível socioeconômico e demais características.

Embora cada uma possua suas diferenças, é possível classificar a semelhança quanto a aceitação, compreensão e a maneira de conduzir os sentimentos dos integrantes durante o luto. Podemos dividir em dois grandes grupos que são extremos na forma de estar e ser, não esgotando outras prováveis classificações.

Famílias em que os membros não expressam abertamente o que sentem

Nesses casos, os membros da família não tendem a analisar melhor os sentimentos, ou seja, não buscam se aprofundar e tentar desvendar aquilo que não é dito. Isso quer dizer que sentimentos invisíveis, ou seja, que não são expressos abertamente, serão ignorados.

Por exemplo:

Se um filho está deprimido, a tendência é pensar que ele está assim devido a dias estressantes de trabalho ou que precisa de férias. Não consideram que pode ser um problema de saúde mental, mas apenas um desgaste físico/profissional.

Para famílias assim, apenas o que é palpável pode ser levado em consideração. Isso quer dizer que quando estão tristes ou angustiados, podem ser considerações irreais caso não haja um motivo aparente que explique tais sentimentos.

Também são pragmáticos quanto a leitura de sentimentos negativos passados e se esquivam. Desta forma, não dão importância aquilo que não é simples.

Esse tipo de limitação é percebido na rotina familiar, quando seus indivíduos não compartilham situações menos palpáveis da vida. Isso quer dizer que simplesmente não comunicam o que não é visível, não expressam seus sentimentos mais profundos.

No caso de situações críticas, quando alguém fica emocionalmente perturbado, no lugar de expressar, tende a reprimir e para evitar que os outros percebam o indivíduo acaba se isolando. Portanto, quando alguém falece em famílias assim, os outros membros não falam sobre a tristeza, sentimentos e demais emoções negativas que estão vivenciando.

A morte se transforma em um tabu, sobre o qual ninguém conversa, parecendo muitas vezes que o falecido nunca existiu.

Normalmente, as pessoas da família com essas características costumam viver o luto patológico, pois não assumem a perda real de alguém que amava. A estrutura familiar não se adapta, os membros continuam com os mesmos papeis e assim dificultam o luto pessoal de cada um, ao fazer “sumir” a pessoa querida de suas vidas e demorar mais para se adaptar a rotina sem ela.

Famílias em que os membros se expressam abertamente

Ao contrário das famílias que não expressam seus sentimentos, essas tendem a inserir na rotina o compartilhamento de emoções. Qualquer um, crianças ou adultos, sentem que podem dialogar ao longo do tempo, seja tristeza ou alegria.

Embora perder um membro abale muito as estruturas e seja muito doloroso, em famílias assim não causa a degradação familiar, pois se mantêm forte graças a divisão sincera entre todos.

As pessoas aceitam a perda como uma realidade, se ajudam e se ajustam, se adaptando conforme necessário.

Nesse caso, o processo de luto se desenvolve de forma saudável, pois sabem gerir melhor suas emoções e sentimentos, assim como reconhecem e analisam de forma natural em conjunto, possuindo capacidade total para serem o principal apoio ao luto.

As famílias que lidam com problemas de forma afetuosa e rápida tendem muito mais a se unir na perda de um de seus integrantes. Portanto, o momento muito difícil torna o elo ainda mais forte pela união de todos. O abalo é gradativamente reparado na estrutura familiar e o membro que tomou as responsabilidades de quem se foi procura responder aos desafios. Assim, cada membro passa por um processo mais facilitado de luto.

Todos terão o sentimento de que não estão sozinhos e os mais determinados ajudarão os que terão mais dificuldade, além disso, aceitam melhor o apoio de pessoas externas e procuram profissionais para ajudá-los.

Ainda, existem as famílias que possuem membros com as duas características, alguns que censuram os membros mais emotivos e outros que fazem o contrário. Essas famílias ainda assim possuem mais potencial de organização para passar pelo luto de forma mais branda.

Não podemos esquecer dos desentendimentos que podem acontecer entre familiares depois da morte de um membro: a partilha de bens. Frequentemente é um processo muito difícil, pois os integrantes podem entrar em disputa e isso pode gerar rupturas. Portanto, além da dor, perde-se a convivência, confiança, apoio e o laço, tornando o processo de luto ainda mais difícil, mas também lamentam o egoísmo e ainda a falta de respeito.

Como superar a perda, juntos

Existem muitas características que fazem a família vivenciar o luto de forma diferente, como você pode ver com o que discutimos até agora. No entanto, existem algumas maneiras de amenizar os conflitos, tornar o processo mais tranquilo e ajudar de maneira geral.

As dores precisam ser respeitadas

Cada pessoa possui sua forma única de sofrer a perda. Assim nenhuma dor será igual a outra e irá depender de diversos fatores, incluindo tudo que falamos anteriormente quanto as relações que exerciam.

Dito isso, não devemos julgar o que o outro sente ou comparar os sofrimentos. Embora todos os membros da família estejam de luto, não existe uma regra que dita como todos devem se portar, sentir ou agir.

Lembre-se que é momento de se unir e não se desligar da família.

É preciso ficar de olho nas crianças

Como falamos anteriormente, crianças e adolescentes podem não compreender a morte tão bem quanto adultos, principalmente, quanto a ausência do parente que se foi. Portanto, com eles é necessário se fazer mais presente para que o luto seja vivenciado de maneira normal, ou seja, não tenham complicações como o luto patológico.

Como fazer isso? Afinal, pode ser muito difícil ter que explicar a morte para alguém que ainda não sabe muito sobre os aspectos da vida.

A melhor coisa a fazer é ser honesto. Usar eufemismos como “viajou”, “se mudou” não é a melhor solução, pois as crianças podem interpretar de forma literal e pode acabar sendo prejudicial. Pense em como ela pode se sentir abandonada por um avô, irmão ou pai, que tanto amava, enquanto a verdade é que eles não escolheram partir.

A forma com a qual a família vivencia o luto pode ser importante no desenvolvimento emocional da criança. Por isso, é importante acompanhar de perto e se mostrar sempre disposto a ajudar, ouvir e amparar.

Conversem a respeito

As famílias que expressam seus sentimentos passam mais tranquilamente pelo processo de luto, mas aquelas que não expressam, precisam de estímulo para isso. Esse estímulo deve ser ao menos deixar todos os membros da família terem a liberdade de conversar a respeito. Para isso, só precisa que os que se expressem mais facilmente tenham ciência de que podem falar e lembrar do ente que se foi. 

Fique de fora, mas acompanhe o luto de cada um

O luto traz uma gama de sentimentos, como raiva, sensação de impotência, dor, culpa, medo, alívio, ansiedade, etc. e cada um tem sua forma de sentir e o direito de viver isso.

Por exemplo, quando se vive processos com a família, como passar por uma prova de concurso, o nascimento de um novo membro ou datas comemorativas importantes todos tendem a expressar suas opiniões sem medo. Criticar a forma como uma sobrinha cria o filho, comparar os primos e as faculdades escolhidas e educação dos filhos dos outros é algo bem comum em parentes muito unidos e que se veem com muita frequência.

Aqui no Brasil, muitas famílias vivem juntas até mesmo em uma propriedade só, por isso é muito comum que no luto alguns pensem que podem opinar e criticar as demonstrações de sentimentos dos outros. É preciso respeitar os momentos das pessoas, para que cada um possa viver seus sentimentos da melhor maneira, portanto, não cobre reações, palavras, finalização do luto, etc. O que deve ser feito é apoiar uns aos outros e deixar que cada um vivencie todas as emoções do processo.

Busque ajuda

Entender que o luto muitas vezes traz uma carga de sentimentos mais pesada do que pode carregar é importante. É muito normal que haja problemas e que algumas pessoas precisem de ajuda que venha além da família, e isso é muito comum e até aconselhável.

Não é um processo simples, portanto, se alguém demonstrar que não está passando por ele de forma saudável, se o luto estiver durando muito tempo, se a pessoa não consegue voltar a vida normal ou se age de forma indiferente a morte, pode ser interessante buscar a ajuda de um profissional. 

O psicólogo pode ajudar a compreender melhor o processo e a lidar com as emoções que surgem nesse momento importante. Existem psicólogos especializados em luto e que podem ajudar toda a família a passar por essa fase tão difícil, de forma melhor.

Aqui nós falamos de tudo que envolve o luto em família e esperamos ter ajudado muito a passar por esse momento. Vamos deixar aqui embaixo alguns outros textos que podem auxiliar no seu aprendizado e esperamos que tudo fique bem em breve.

http://celebreoviver.com.br/fases-do-luto-quando-saber-que-esta-pronto-para-seguir-em-frente/
http://celebreoviver.com.br/11-licoes-que-se-aprende-depois-de-perder-alguem/
http://celebreoviver.com.br/musicas-para-homenagear-alguem-que-faleceu/